E,
de repente, a mentira se fez. Seu gosto amargo não deixou que a vida
se tornasse doce novamente…
Quem
viveu essa era pode confirmar: de repente o mundo ficou diferente.
Isso passou a acontecer quando o desenvolvimento dos meios de
comunicação fez com que a notícia corresse mais célere de um lado
ao outro. Houve quem vislumbrasse nisto a grande oportunidade de
impor suas ideias e não deixou de aproveitá-la.
Naqueles
tempos eu vivia os últimos anos da Segunda Guerra na Alemanha. Penso
que então ainda prevalecia a honestidade, a moral. Apesar da
tormenta, os bons costumes eram mantidos. A mentira ainda era
proscrita. Quem pensa que aquele povo, sofrendo, como se diz, sob a
batuta de um regime tão maldito, era enganado, que recebia
informações falsas, manipuladas, como conta a história, não sabe
da realidade. Quem dos seus homens teve que pegar em armas via nisto
a obrigação natural do cidadão de defender sua pátria. Ninguém
era iludido. As notícias diárias levadas à população incluíam
comunicados elaborados pelo próprio comando-geral das forças
armadas, dando conta das vitórias conquistadas nas diversas frentes,
mas também das derrotas sofridas, dos avanços e dos recuos. As boas
novas e as más. Algo hoje impensável.
Acabou.
Eram os estertores da Verdade. Nos grandes conflitos de hoje, e não
são poucos, tudo o que se vem a saber partiu de uma só fonte, sendo
de teor tendencioso e parcial. A própria Segunda Guerra já fora
fruto da mentira. Necessitaram dela para conseguir reunir 53 nações
no intento de combater aquele pequeno país que, na ingenuidade de
sua gente, insistia em buscar novos caminhos, queria acabar com a
vantagem que o dinheiro vinha levando sobre o trabalho. Desrespeitou
os plutocratas que dominavam e dominam o mundo. Foi derrotado
inclemente e incondicionalmente.
Sobreveio
em ritmo desabalado a evolução das técnicas de comunicação.
Novos processos técnicos e novas máquinas permitiram aos veículos
impressos maiores tiragens e mais atualidade. Emissoras de rádio se
multiplicaram e ampliaram seu alcance. Chega a televisão em escala
comercial. Pioneiro no Brasil, Assis Chateaubriand inaugurou sua
TV-Tupi de S.Paulo em 1950. Telex e Telefax popularizaram a
transmissão de notícias. Tudo exigia dinheiro, dinheiro gerava
dependência. As editoras, sejam de livros, sejam de jornais,
começaram a mudar de dono. O noticiário internacional passou a ser
concentrado em poucas agências de notícias. Ficou fácil dizer ao
mundo o que e como pensar.
E
o mundo não tinha alternativa senão acreditar no que lhe era dito e
a pensar como era desejado, o que, obviamente, nem sempre era a
verdade. É natural que escolas e faculdades tivessem que se engajar
no processo. Assim como se aprendia a tabuada, aprendia-se história.
História como a queriam aqueles que manipulavam os noticiários, os
livros, as revistas, os jornais, os filmes e tudo mais. Note-se que
desde então pelo menos três gerações já passaram por este
processo. Não é de admirar que certos conceitos já adquiriram
caráter dogmático.
Pode
ter sido isso o que Winston Churchill imaginou quando disse:
“Uma
mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo que a verdade
tenha oportunidade de se vestir.”
As
mais deslavadas mentiras se espraiaram pelo mundo. Este em nada
melhorou, mas, com certeza, muita gente acredita agora mais do que
nunca que existe um povo privilegiado por Deus.
Toedter